Câmara e Universidade Nova unem-se para descobrir património arqueológico subaquático
A localização de uma nau espanhola com 22 toneladas de ouro e prata, que terá naufragado perto de Troia, é um dos objetivos da prospeção subaquática que vai ter lugar entre Melides e a Comporta nos próximos três anos.
A prospeção subaquática no litoral alentejano vai decorrer no âmbito de um protocolo a celebrar dia 4 de outubro entre a Câmara de Grândola e o Instituto de Arqueologia e Paleociências da Universidade Nova de Lisboa.
“É um projeto de arqueologia subaquática, que conta com a colaboração de mergulhadores amadores, de arqueólogos e alunos de arqueologia da Universidade Nova, e que visa detetar qualquer traço de património cultural submerso naquela zona”, disse à Lusa Alexandre Monteiro, arqueólogo da Universidade Nova de Lisboa, um dos responsáveis pelo projeto a desenvolver nos próximos três anos na zona costeira do concelho de Grândola.
“É uma zona extremamente rica do ponto de vista científico. Cronologicamente tem ocupações que se estendem desde o neolítico até à idade contemporânea, há o porto romano e o complexo fabril de Troia, que esteve em atividade durante 400 anos, e depois há toda uma série de naufrágios que, desde que existem registos, desde a Idade Moderna, que estão documentados”, acrescentou.
Segundo Alexandre Monteiro, a prospeção subaquática vai justamente começar pela procura do navio espanhol que se perdeu em 1589, em frente a Troia, e de um navio holandês, com uma carga de ânforas e moedas de prata, que se perdeu em 1626, em Melides.
“É possível encontrar-se tesouros – ouro, prata e porcelana chinesa, porque temos registos de cargas dessas perdidas. Mas, de acordo com a legislação e a convenção da UNESCO sobre o património cultural subaquático, da qual Portugal é signatário, esse património pertence ao domínio público, de todos e não pode ser vendido”, disse.
Alexandre Monteiro salientou, no entanto, a importância que poderão ter para o país eventuais descobertas arqueológicas.
“Obviamente que esse património vai integrar as reservas arqueológicas do país, com toda a riqueza científica que esses objetos trarão, porque estamos a falar de uma parte da costa portuguesa que nunca foi explorada do ponto de vista arqueológico”, disse.
O arqueólogo referiu ainda que há notícia de que terá sido desviado algum do património arqueológico subaquático da zona compreendida entre Melides e Troia, a partir da década de 50, quando surgiu o mergulho amador em Portugal.
“Há registo de ânforas intactas que saíram, quase que à palete, do fundo de Troia, há registos de moedas em ouro que foram retiradas da zona da Comporta, e nunca houve, verdadeiramente, uma ação de arqueologia”, frisou.
O protocolo entre a Câmara de Grândola e a Universidade Nova de Lisboa prevê a realização de mergulhos exploratórios no primeiro ano, para determinar as condições de fundo do mar e as condições de sedimento.
No segundo ano deverá iniciar-se um período de ‘prospeção geofísica’, em que será efetuado um trabalho de deteção remota, desde Melides até à de Troia, que identificará os vários alvos que existirão no fundo do mar, a que se segue uma avaliação para decidir o curso da investigação arqueológica.
De acordo com pesquisas documentais de investigadores do Instituto de Arqueologia e Paleociências da Universidade Nova de Lisboa, em arquivos portugueses, espanhóis, ingleses e holandeses, há registo da perda de vários navios entre Melides e Troia.
A confirmar-se que alguns desses navios se afundaram na zona que vai ser objeto de prospeção subaquática, os arqueólogos admitem a possibilidade de se encontrarem vestígios de embarcações pré-clássicas, clássicas e medievais islâmicas e cristãs.
in: DiárioOnline(Lusa)
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