sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Não Esquecer!!!

Amanhã vai decorrer a Assembleia Municipal aqui na nossa terra, e a ordem de trabalhos parece-nos interessante...
É fundamental abordar todos aqueles pontos, e esperamos que o façam da melhor maneira.
Temos esperança de que desta reunião surjam deliberações importantes para o povo, para a Comporta e para o Concelho.
Temos esperança que as divergências partidárias se deixem abafar pelo que é realmente importante, e que trabalhem todos juntos para povo, para a Comporta e para o Concelho.
Temos esperança que o povo, da Comporta e do Concelho, participe, colabore e cumpra a sua parte ao fazer-se ouvir e apresentar, não só os problemas, como também propostas de soluções.
Esperamos que não se esqueçam de tudo o que já falámos neste blogue e de tudo aquilo que ficou por falar.
Esperamos que ao visitarem a nossa terra, os membros da Assembleia possam ter consciência da "aldeia fantasma" em que se transforma quando "abalam" os turistas, que tenham consciência que existem pessoas que cá vivem durante todo o ano (aqueles que ainda conseguem) e que precisam de condições para continuar cá, que tenham consciência que existem jovens (e não só) que até gostavam de cá viver, mas que não têm oportunidades...
Não se esqueçam que é preciso criar emprego, que é preciso criar condições para as pessoas cá poderem viver, que é preciso encontrar uma solução para a falta de habitação (terrenos ou casas), que é preciso apostar mais ainda na educação e na saúde.
Não se esqueçam que a Comporta não tem serviços públicos (Acção Social, Centro de Emprego, Escola Básica, etc.)  e que os transportes existentes também não permitem o acesso fácil a esses serviços centralizados.
Não se esqueçam de tudo o que é importante, porque embora a ordem de trabalhos nos pareça interessante, não tem tudo!!! 

1 comentário:

PM disse...

Ó Pina um futuro assim não se esquece.

“O diploma da minha vida”

Aos seis anos de idade já percorria todos os dias uma estrada forrada de espelhos a caminho da escola, contava-me vezes sem conta, eu era muito pequeno e não entendia, mas ficou-me sempre na memória a imagem daquela estrada imaginária já que a realidade era bem diferente, fazia parte de uma família com onze filhos que desde muito novos tinham que ajudar no sustento da casa, a escola era apenas uma miragem.

Essa realidade bem diferente era a do trabalho no campo desde tenra idade, mas essa nunca me foi directamente revelada, daí a metáfora da estrada espelhada entre outras, também me recordo de ouvi-lo dizer que na casa dos pais treze pessoas à mesa dava azar, esboçando sempre um sorriso mas sem nunca adiantar uma explicação, eram como peças de uma charada que só fui conseguindo decifrar ao longo dos tempos.

Dos onze irmãos só ele se quedou pelo nosso país, todos os outros emigraram para o Brasil, só ele não, coisas do destino, e quis esse mesmo destino que ele imigrasse aos treze anos para outras paragens, para trabalhar no condado de Palma, fazia parte dos chamados ratinhos que vinham do norte para o sul, tinha marca disso numa perna, cicatriz bem vincada pelo chicote do capataz, por subir a uma árvore ao invés de assegurar a tarefa que lhe estava destinada, coisas de crianças.

Mas o seu destino foi procurando mudar, aprendeu a ler sozinho, comprou uma pasteleira e aos fins de semana rumava à capital para se instruir, estudou na primeira escola técnica de corte para alfaiates do país, de Manuel Guilherme de Almeida, que criou o seu próprio método de corte, trata-se de um método proporcional que apresenta as fracções relativas a cada medida do peito, destinadas aos traçados do corte, dispensando as antigas réguas de escala, tabelas ou cálculos aritméticos que viria a ser patenteado como método de corte Maguidal e daria o nome à Academia Maguidal.

Aos vinte e seis anos de idade formava-se alfaiate nessa academia, tendo sido aprovado com distinção, assim reza o diploma passado aos catorze dias do mês de Agosto do ano de mil novecentos e quarenta e seis, daí em diante exerceu a profissão de alfaiate até que as forças lho permitiram, proporcionou instrução aos seus filhos e na medida das possibilidades ajudou filhos e netos, de maneira a que os azares da vida dele se esbatem-se antes de os atingir.

Andei muitas vezes nas pasteleiras do meu avô, seu meio de transporte favorito desde sempre, o automóvel esse era só para as deslocações maiores, aquelas tesouras enormes sobre a sua mesa de trabalho sempre me fascinaram, eram pesadíssimas, ele não teve certamente o destino que sonhou, mas soube tomar boa conta do que lhe coube em sorte, é por isso que eu acho que aqueles versos “Eu queria ser astronauta, O meu país não deixou, Depois quis ir jogar à bola, A minha mãe não deixou. Tive vontade de voltar à escola, Mas o doutor não deixou, Fechei os olhos e tentei dormir, Aquela dor não deixou...” lhe são dedicados e é por isso também que o diploma de alfaiate da Academia Maguidal é o diploma mais importante da minha vida.