segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Zé Povinho (por cá também) e aos Zésss


De calças remendadas e botas rotas, é a eterna vítima dos partidos regenerador e progressista, dando a vitória a uns ou outros em época eleitoral. Usando como expressão corporal o manguito e a mão coçando aflita a grenha farta, foi sem dúvida um trunfo na denúncia duma economia capitalista frouxa nas páginas d'A Lanterna Mágica, berço da genial criação do símbolo do povo português. O sucesso obtido foi tal que Bordalo acabou por recriar no barro, em tinteiros, cinzeiros e apitos, a figura-símbolo do povo português ao lado da inseparável Maria da Paciência, velha alfacinha alcoviteira.

«Crescido, Zé Povinho correspondeu perfeitamente às esperanças que n'elle depositaram os solicitos poderes do reino. Como desenvolvimento de cabeça elle está mais ou menos como se o tivessem desmamado hontem. De musculos, porém, de epiderme e de coiro, endureceu e calejou como se quer, e , cumprindo com brio a missão que lhe cabe, elle paga e súa satisfactoriamente. De resto, dorme, resa e dá os vivas que são precisos. Um dia virá talvez em que elle mude de figura e mude tambem de nome para, em vez de se chamar Zé Povinho, se chamar simplesmente Povo. Mas muitos impostos novos, novos emprestimos, novos tratados e novos discursos correrão na ampulheta constitucional do tempo antes que chegue esse dia tempestuoso.
Por tudo pois, ao resumirmos n'estes leves traços, a interessante historia de Zé Povinho, o nosso parabem cordeal a seus sabios e carinhosos paes ós Publicos Poderes.


in:Dr. Vasco Trancoso

1 comentário:

Anónimo disse...

Cartas ao Pai Natal IV

Isto não é uma carta!
É um manifesto. Um protesto. Uma petição
Assinada por dezenas de intelectuais
E outras pessoas que jamais
Se reviram numa festa
Bacanal
Orgia de oferendas
Dadas sem qualquer critério
E que perpetuam uma tradição
Caduca. Reaccionária. Clerical.
Que tu representas oh pai do natal.
Com esta petição pretendemos
Que a data seja referendada
Não imposta, decretada
Por um estado economicista e liberal
E que seja celebrada quando um homem quiser
Não à roda da mesa. Consoada.
Mas num portuguesíssimo arraial.

Assina: Francisco Louça