quarta-feira, 3 de março de 2010

A cobiça na Comporta, passa pela a Areia?


A próxima vez que for à praia e sacudir a areia dos pés no regresso dê alguma atenção aos pequenos grãos. São a fonte de energia do futuro, a acreditar numa empresa californiana que acaba de anunciar baterias que transformam a areia em electricidade. Para garantir que não se trata de mais uma megalomania de um qualquer inventor de Silicon Valley, a apresentação da descoberta foi feita por Arnold Schwarzenegger, o actor-governador da Califórnia E entre os convidados estavam um dos fundadores da Google e o presidente da eBay. Nesse dia, nenhum deles se importou de perder uma bela manhã de praia no Pacífico. Afinal, começaram a ver a areia com outros olhos.

Milho, cana-de-açúcar, camelina (uma planta obscura) ou dejectos de porcos, tudo tem sido utilizado nos últimos tempos como fonte de energia alternativa. Aliás, na semana passada até o lixo de Londres foi anunciado como um dos combustíveis dos aviões da British Airways a partir de 2014. Some-se a isto a energia das ondas e das marés, os moinhos eólicos e os painéis solares e percebe-se até que ponto os preços recordes do barril do petróleo em 2008 assustaram o mundo. Ou então despertaram o engenho de pessoas como K. R. Sridhar, o antigo professor de Engenharia Aeroespacial de 50 anos que há três décadas trocou a Índia pelos Estados Unidos e hoje lidera a Bloom Energy, a empresa que inventou a bateria que funciona com areia. Entre as marcas que aceitaram testar em segredo a descoberta do homem oriundo do Tamil Nadu estão gigantes como a Coca-Cola, a Wal-Mart, a Google e a eBay. As baterias da Bloom Energy deverão ainda demorar uma década a chegar às casas e aos carros, mas Schwarzenegger afirma, implacável no seu sotaque austríaco, que "têm o potencial de revolucionar a indústria energética". E o segredo é a sílica, material abundante na natureza e cujas propriedades científicas permitiram a Sridhar construir uma fonte de energia 60% mais limpa que as centrais eléctricas a carvão e, para já, 40% mais barata, o que permite em três a cinco anos amortizar o elevado preço das baterias.

Portugal, que tem praias capazes de competir com as do Tamil Nadu e até com as da Califórnia, não teve a sorte de atrair Sridhar, um cientista brilhante que durante anos ajudou a NASA a estudar como assegurar a vida em Marte e agora se diz preocupado com o ambiente na Terra. Mas mesmo assim esta é uma boa notícia para quem nunca conseguiu descobrir "óleo de rocha". Se já não nos faltava o sol nem as ondas, agora podemos contar com a areia. Quem disse que este não é um país cheio de futuro?

in: DN

1 comentário:

PM disse...

Ó Pina há areia e mar, há excepção e voltar.

“O mundo das excepções”

Uma excepção é sempre uma excepção, e nada mais admirável que uma excepção para nos permitir dar a volta àquela situação excepcional, não prevista e que de outra forma dificilmente seria superada, que a falar é que a gente se entende, a lei às urtigas.

O que seria de nós latinos sem a figura da excepção, ela que nos permite subverter por completo o sistema e contornar a lei, já imaginaram que vida tão entediante, tão sem graça, tudo certinho e direitinho, assim ao estilo dos germânicos e nórdicos, que vida mais chata.

Imaginem-se a conduzir numa estrada bem amanhada com uma sinalização normalizada, onde encontrar o destina é tarefa simples, banal, imaginem-se agora numa estrada esburacada e com uma sinalização decifrável apenas pelos espíritos mais atentos, onde cada curva é um desafio, super, para além de desenvolver a rapidez de reflexos.

Imaginem um sistema de saúde em que a consulta se marca on-line ou pelo telefone e nos enviam o dia e hora por e-mail ou sms e depois o horário é cumprido, trivial, imaginem agora o ter que ir para a fila logo de manhã, esperar até à hora do almoço e ser atendido a meio da tarde, bem bom, só assim se põe a conversa em dia com amigos e conhecidos de ocasião.

Imaginem um sistema de justiça a funcionar com base na jurisprudência, tendo por base a discrição e com a celeridade que se impõe, fácil, imaginem agora o avolumar de processos e o arrastar de mega-processos e um conjunto de magistrados ávidos de opinar na comunicação social, baril, e contribui para o desenvolvimento da criatividade e imaginação.

E para aqueles mais poderosos que não quiserem fazer uso deste tipo de excepções, ou usufruir de um tratamento à margem das leis, existe sempre a possibilidade de legislar à medida para assim trazer uma excepção, ou conjunto de excepções para o domínio da legalidade e assim branquear comportamentos, sim que as leis fazem-se para servir os homens e não os homens para servir as leis.

Ele há lá mundo mais atractivo que este da latinidade, onde o desenrascanço e a excepção são figuras de primeira grandeza, que permitem ultrapassar todo o tipo de barreiras, nos dotam de um espírito criativo acima da média e com reconhecimento além fronteiras, onde quer que exista um português, é o admirável mundo das excepções.